Estamos diante das narrativas
de aparições do Ressuscitado que, segundo os exegetas, seriam
acréscimos posteriores feitos pela Igreja estruturada – provavelmente já
no século II d.C. -, a qual achou por bem reforçar, nesse Evangelho, a
dimensão do Cristo glorioso.
Glorioso por quê? A razão é simples: os
apóstolos estavam angustiados por não poder realizar a missão de levar o
Evangelho “a todos os povos”, como Jesus lhes havia ordenado. Enviados a
proclamar o poder que Jesus recebeu do Pai, os apóstolos deveriam
partir, dispostos a caminhar por todas as estradas do mundo e anunciar a
Boa Nova da Salvação a todas as pessoas que encontrassem. Ninguém
poderia ser deixado de lado, pois a Salvação é um direito de todos. Mas,
assim como nós, hoje, também os discípulos de Jesus vacilaram muitas
vezes. Tiveram medo de anunciar e pregar o Evangelho com viva voz.
Então, Jesus ressurgiu e os confirmou na fé, dando-lhes a certeza da Sua
presença entre eles.
Para que os discípulos não duvidassem do
Mestre, Ele lhes deu sinais visíveis e concretos. O primeiro sinal foi o
da adesão. Assim, o Senhor soprou sobre eles, a fim de que recebessem a
força do Espírito Santo. Portanto, o sinal de adesão a Jesus se dá no
batismo, feito “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Essa é a
forma de vincular toda a humanidade ao Pai, por meio de Jesus, na força
do Espírito. Dessa comunhão de amor deve surgir uma humanidade nova,
fundada na filiação divina e na fraternidade.
Por sua vez, os apóstolos têm como tarefa
levar os novos discípulos a pautar sua vida nos ensinamentos do Mestre.
Para isso, bastaria ensinar os batizados a observar tudo aquilo que
Jesus lhes havia ensinado, ou seja, nada mais do que amar a Deus e ao
próximo, como fora explicitado no Sermão da Montanha.
Uma certeza deveria animar os apóstolos: o
Ressuscitado estaria, para sempre, junto deles, incentivando-os a serem
fiéis à missão. Portanto, nada de se deixar abater pela grandiosidade e
pelas exigências da tarefa recebida.
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!” (Marcos 16,15). Assim,
tornai-vos a esperança dos homens, vós que sois, para vós mesmos, causa
de desespero. Descobrireis a extensão de vossa incredulidade quando
virdes o mundo crer em vossa palavra, vós que sequer confiastes no
testemunho de vossos olhos. Sabereis qual a dureza de vosso coração,
quando virdes, no mundo inteiro, os povos mais selvagens proclamarem meu
Nome sem jamais me terem visto, enquanto vós me renegastes quando vivi
entre vós. Vereis pela terra homens divididos, homens encerrados em
ilhas, encravados em rochedos, perdidos no deserto, mágicos, gregos
tagarelas, romanos bem falantes procurarem a fé pela própria fé, que vós
procurastes com a mão e com o dedo no fundo de minhas chagas.
Assim como Jesus enviou os apóstolos
ontem, hoje, Ele faz o mesmo com você. Ele está enviando você, meu
irmão, como testemunha de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Não deixe
que a sua “lentidão” sirva de obstáculo para os seus irmãos e irmãs. Não
tenha medo, porque Jesus está com você.
Nada acontecerá com você durante sua
missão. Saiba que a sua disponibilidade em aceitar o convite ao anúncio
do Evangelho fortificará a fé daqueles que hão de crer por meio de você.
“Quem crer e for batizado será salvo”, diz o Evangelho.
Como batizado, saiba que a fé é para o batismo o que a alma é para o corpo. Assim, aquele que nasce da água vive da fé. “O justo – diz S. Paulo – viverá pela fé “
(Rm 1,17). Portanto, aceite o convite. Não tenha medo e se coloque a
serviço do Senhor, servindo seus irmãos. Seja testemunha do Senhor
Ressuscitado.
Padre Bantu Mendonça
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